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A idéia da coisa política, como escreve Hannah Arendt, surge na polis grega e não seria inerente ao homem, mas ao entre-homens, que são diferentes e plurais. A política surge, então, no intra-espaço e se estabelece como relação. Baseia-se, assim, na convivência entre diferentes, com a função de organizar e regular o convívio, que é a esfera pública. De acordo com Rosalyn Deutsche, foi Arendt que mais corretamente associou a noção de esfera pública ao que chamou "o espaço da aparição" ou "tornar visível", abrindo a possibilidade de que as artes visuais pudessem ter algum papel no aprofundamento e extensão dessas relações entre diferentes, papel que alguns artistas, historiadores e críticos contemporâneos estariam desempenhando com vigor.
Assim, propõe-se para essa sessão temática uma reflexão sobre a relação entre a arte e a política envolvendo o debate sobre a escrita da história, da teoria e da crítica de arte, uma vez que a permanência da hegemonia cultural européia e norte-americana, que se instaurou com a constituição da arte e da história da arte como campos de conhecimento, contradiz a própria concepção de coisa política. Nesse debate inclui-se aquele da participação da produção latino-americana de arte no processo que envolve o reconhecimento de dicções locais, assim como de institucionalização global. Considera-se também como tema relativo a esse debate as transformações no conceito de arte, tendo-se como parâmetro as relações de pós-produção, ou seja, aquelas marcadas nos últimos 20 anos pelo capital abstrato, cultural.
Contribui ainda nessa proposta a reflexão sobre a produção dos anos 1960 e 1970, especialmente a identificada pela resistência em arte ao que ficou conhecido como sociedade do controle, do biopoder, ou do espetáculo, assim como a produção artística das duas últimas décadas (1990 e 2000), teorizada também como relacional ou colaborativa, e a retomada das prerrogativas da arte conceitual, sobretudo no debate sobre a inserção no espaço público como uma forma de ação política em arte. |