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longo do século XIX, o meio artístico brasileiro organizado em torno da
Academia de Belas Artes no Rio de Janeiro, estimulado pelas Exposições
Gerais e sua repercussão crítica na imprensa, foi palco do debate em
torno do erotismo e da sensualidade na representação do nu e da
concepção de uma arte dita nacionalista. . Em
1865, Pedro Américo apresenta na Exposição Geral da Academia Imperial
de Belas Artes a obra “A Carioca”, certamente o nu mais polêmico
realizado por um artista brasileiro desde o início daquelas exposições
na década de 1840. A obra, oferecida a Pedro II, foi recusada pela Casa
Imperial por ser considerada imoral e licenciosa. De fato, a
sensualidade da figura nua e seu título “A Carioca” evocavam, além
disso, o debate em torno da arte nacional e das alegorias que pudessem
referir-se à ideia de nação que ainda se consolidava, colocando-a em
risco. Na exposição seguinte, em 1866, Victor Meirelles apresenta
outra figura nua e indígena, “Moema”, trazendo para o campo das artes a
importância da literatura e das nossas raízes sociais, culturais e
igualmente políticas, sem provocar a polêmica suscitada pela
“Carioca”. . Que
noções permearam a recepção crítica desses e de outros nus na arte
brasileira? Que relações podem ser mapeadas a partir de referências
artísticas europeias nas obras nacionais? Quais nus e alegorias
representados pelos artistas brasileiros propuseram novos debates e
apropriações no campo das artes no Brasil? Como a Academia das Belas
Artes no Brasil conduziu seus artistas para a elaboração de alegorias e
do nu na construção de iconografias nacionalistas? Qual o papel da
tradição clássica e do modelo vivo como instrumentos de elaboração
destas imagens? Como as questões raciais e de gênero aparecem nas
academias e estudos de nus? Reflexões sobre essas questões serão bem
vindas nessa sessão temática. |