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No
ano em que comemoramos meio século de existência do CBHA, o tradicional
colóquio, que acontece anualmente, reunindo pesquisadores de todo país,
será festivo. Além da programação variada, que procura atender às
demandas surgidas nos últimos anos, lançaremos, com grande satisfação,
o Prêmio CBHA de Teses em História da Arte, com a temática “Arte no
Brasil: Singularidades e Conexões” que busca incentivar a pesquisa
científica na área de história da arte. . O
tema proposto para o colóquio de 2022 lança o desafio de pensar no
trabalho que já se descortina no horizonte, questionando qual será o
futuro da história da arte, como área de conhecimento, nas décadas
vindouras. Mergulhamos, há alguns anos, nos dilemas que anunciavam
transformações radicais. Foram muitos os epílogos proclamados,
sinalizando que os tempos que estavam por vir trariam o colapso das
formas tradicionais de análise e produção de conhecimento. Mais
recentemente, no processo de desconstrução das narrativas canônicas
eurocentradas, tornou-se fundamental discutir o problema da
“de(s)colonização” das narrativas, invocando a necessidade de autonomia
em relação aos modelos implantados pela cultura europeia. . Já
aprendemos – ou, pelo menos, nos esforçamos para aprender – a lidar com
narrativas produzidas por diferentes concepções de mundo, baseadas nos
relatos orais, como as dos povos originários e dos afrodescendentes,
com temporalidades que não se desenvolvem de maneira linear. Incluímos
a comunidade LGBTQIA+ nas investigações sobre produção artística.
Também investigamos as abordagens historiográficas feministas, que
recolocaram a produção de artistas mulheres na pauta das discussões.
Temáticas antirracistas, antixenofóbicas e antimisógenas foram
integradas ao trabalho dos historiadores da arte, com grande senso de
urgência e responsabilidade. . Estávamos
em pleno esforço de renovação epistemológica, visando a construção de
bases mais respeitosas e democráticas para o campo da história da arte,
quando fomos surpreendidos pelo reavivamento, em escala global, do
obscurantismo científico. Interromper o estudo de uma coleção de arte,
por exemplo, para explicar que o planeta Terra é, sim, esférico, em
pleno século XXI, convenhamos, demanda esforços sobrehumanos. Mas
também acende o alerta de que precisamos nos associar às outras áreas
de conhecimento para superarmos os obstáculos que se apresentam. . Difundidas
pelas redes sociais, mensagens maldosas com conteúdos
pseudocientificos, produzidas propositalmente para convencer e enganar
os incautos, relativizaram as vozes das autoridades, dos conhecedores e
dos especialistas, produzindo efeitos devastadores em alguns países,
especialmente durante a crise sanitária provocada pela pandemia de
COVID-19, que dizimou centenas de milhares de vidas. Lamentavelmente,
os novos tempos, de pirotecnias digitais hipnotizantes, também
facilitaram a difusão de informações carentes de fundamentação
histórica e científica e nos jogaram num abismo sem fundo, cuja saída
ainda não vislumbramos. . No
Brasil, ao mesmo tempo em que a crise sanitária avançava, acompanhamos,
estarrecidos, o rápido desmantelamento das instituições, dos acervos,
dos arquivos, dos programas, dos projetos, dos espaços de
sociabilidade, e de expressão artística, e das legislações de incentivo
à cultura. . Nosso
passado, em franco processo de reavaliação/reconstrução, corre o risco
de decompor-se em milhares de narrativas, de acordo com os interesses e
as necessidades manifestas pelos multifacetados grupos existentes,
incluindo os grandes conglomerados do capitalismo. A metáfora bíblica
de uma “Babel” em que a comunicação entre os(as) humanos(as) se
tornaria impossível parece prestes a se realizar nas práticas
contemporâneas. Estaremos fadados a assistir passivamente ao
esvaziamento simbólico e ao desmonte das estruturas educacionais e
culturais, de fundamentação humanista, erguidas pelos nossos
antecessores, que se esforçaram em criar escolas, universidades,
bibliotecas, galerias, museus, coleções, associações de
pesquisadores? . O
futuro é ancestral, diria o pensador Ailton Krenak, bebendo nas fontes
das culturas antigas. É impossível avançar sem reconhecer os passos já
percorridos. Isso nos inspira a conceber ciclos de temporalidades
múltiplas, que se retroalimentam tanto das situações vividas, quanto
daquelas que ainda estão por vir. Se acrescentarmos a isso a noção de
“alargamento do presente”, nossos passos, ainda tímidos, já estão nos
ensinando o caminho a ser percorrido. Precisamos acreditar nos futuros
possíveis, ainda que utópicos,distópicos ou heterotópicos. . Resta
saber se o futuro que estamos construindo nos dará a independência e a
autonomia que desejamos, o que envolve, também, o diálogo com nossos
pares de outras áreas, a divulgação do trabalho que desenvolvemos e a
ampliação do número de participantes do CBHA em todas as regiões do
Brasil. Fica o questionamento: que posição desejamos ocupar nas
instituições de pesquisa e junto aos órgãos que determinam as políticas
públicas a serem implementadas para difusão de arte, cultura, ciência e
tecnologia no nosso país, buscando soluções conjuntas para sairmos do
abismo? . Convocamos
os(as) colegas do CBHA, assim como os(as) profissionais e
estudantes interessados no tema, a participarem desta importante
discussão, que poderá apontar novos rumos para a área de conhecimento. , Comissão Organizadora do 42º Colóquio do CBHA – 50 anos ,, Marco Antonio Pasqualini de Andrade (PRESIDENTE - UFU/CBHA) , Angela Brandão (UNIFESP/CBHA)
Arthur Valle (UFRRJ/CBHA) , Camila Dazzi (CEFET-RJ/CBHA) , Fernanda Pequeno (UERJ/CBHA) , Ivair Reinaldim (UFRJ/CBHA) , Neiva Bohns (UFPel/CBHA) , Rogéria de Ipanema (UFRJ/CBHA) , Sheila Cabo Geraldo (UERJ/CBHA)
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