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Ementa:
A presença de artistas estrangeiros no Brasil e as relações de artistas
brasileiros com o meio artístico de outros países não datam de hoje. Se
no século XVII, holandeses pintaram as paisagens e gentes de nosso
país, o século XIX viu crescer a passagem dos pintores viajantes, após
as mudanças políticas de 1808. Merece destaque a atuação dos franceses
que para cá vieram em 1816 e implementaram o ensino artístico oficial
com a Academia de Belas Artes, assim como aqueles que residiram no
país, produzindo suas obras em ateliês privados. No decorrer do século
XIX, a Academia organizou Prêmios de Viagem concedendo estadias na
Europa aos artistas em formação. Na Itália ou na França, brasileiros
criaram redes de contato com artistas e instituições. A circulação de
obras e artistas estrangeiros no Brasil também ganhou incremento no
século XIX, Salões de arte e exposições incentivaram o início de um
mercado de arte entre nós. . Já
no século XX, um papel de grande importância coube às Bienais de São
Paulo. Almejando criar um espaço de legitimação e de promoção da arte
brasileira e latino-americana em um circuito ampliado, as bienais
promoveram diálogos horizontais e conexões mais sólidas entre os países
da região. Relações interinstitucionais consistentes geraram novos
fluxos culturais e aceleraram a circulação de obras, artistas e agentes
culturais no Brasil e na América Latina a partir dos anos 1950. Até sua
14ª edição (1977), a Bienal de São Paulo incluía prêmios
regulamentares, menções honrosas e prêmios-aquisição, patrocinados por
empresas, órgãos públicos e empresários. . As
bienais e mostras artísticas sazonais de perfil internacional e
contemporâneo são, ainda hoje, formas de intercâmbio e de fricção
cultural entre grupos e nações e de negociação entre agentes do mundo
da arte. Enquanto espaços legitimadores, as movimentações e embates ali
produzidos geram choques, associações e disputas no campo da arte e da
cultura e tornam evidentes as contradições embutidas em categorias como
local, regional, internacional e global em um mundo regido por divisões
geopolíticas, interesses econômicos e complexas relações de poder. De
que modo tais contatos marcam a produção artística nacional ou
estrangeira? Como esse sistema de legitimação gerou controvérsias e
debate sobre os excluídos? Nesta sessão temática, propomos pensar a
arte, os artistas e os objetos artísticos em suas várias dimensões, a
partir de uma análise crítica de seus deslocamentos em diversos
ambientes físicos, culturais e simbólicos. .
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