Sessão 4- DINÂMICAS DE CONSTRUÇÃO E DESTRUIÇÃO: OS FUTUROS DA ARTE E DO PATRIMÔNIO CULTURAL
Coordenação:
Vera Beatriz Siqueira (UERJ/CBHA), Maria Berbara (UERJ/CBHA), Paulo
Knauss de Mendonça (UFF/CBHA) e Clara Habib de Salles Abreu (UERJ)
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Ementa: Em
janeiro passado, um deslizamento de terra destruiu um imóvel histórico
na cidade mineira de Ouro Preto (MG). Em fevereiro, foi a vez das
chuvas em Petrópolis (RJ) ameaçarem perigosamente o Museu Imperial.
Nesses momentos, o tema da destruição do patrimônio cultural alcança
uma repercussão ampla e emocionada, nos fazendo refletir sobre o efeito
de tragédias naturais, que muitas vezes poderiam ter sido evitadas por
políticas públicas, na preservação do patrimônio. Junta-se a isto o
descaso em relação à sustentabilidade das instituições públicas de
preservação de bens culturais que ameaça a integridade de acervos, bem
como o aumento no fenômeno de destruição do patrimônio público através
de atos iconoclastas motivados por ideologias diversas que tangenciam
questões políticas, religiosas e econômicas. Manifestações de
intolerância religiosa avançam contra imagens de culto. Monumentos que
celebram narrativas discriminatórias são destruídos em nome de uma nova
forma de conexão do público com o espaço urbano. É certo que esse
tema não se limita ao universo moderno e contemporâneo. Em 415 a.C.,
uma série de estátuas do deus Hermes foi destruída em Atenas, chocando
seus cidadãos. Tampouco se limita a um dado negativo a ser combatido.
Uma longa tradição de estudiosos, como Bakhtin e Bataille, entendem a
destruição ou a perda como valor positivo, seja no caráter iconoclasta
e revolucionário das manifestações populares para o primeiro, seja na
noção de improdutividade que fundamenta a própria arte para o segundo.
Segundo Thijs Weststeijn, no atual contexto de ameaças de múltiplas
fontes ao patrimônio, incluindo as climáticas, antigos modelos de
concepção do tempo - linear ou cíclico - revelam-se insuficientes para
um futuro que se prenuncia caótico. Abordagens de temporalidades mais
longas ou extremamente curtas, ou ainda a coexistência radical de
passado e presente podem se revelar mais produtivas para a reflexão
acerca da destruição e da preservação do patrimônio cultural e da arte.
Isso deve nos conduzir ao entendimento de que todo objeto
material considerado como arte ou patrimônio vive em permanente estado
de fluxo, definindo-se tanto como produto quanto como processo.
Convocamos pesquisadores a pensarem sobre as dinâmicas de construção e
destruição - tanto do patrimônio material quanto de uma memória
coletiva –, em diferentes contextos culturais, e como estas se
articulam e projetam os possíveis futuros da arte no espaço público e
no meio ambiente global.