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Tradicionalmente
as ciências humanas aproximam-se da realidade estabelecendo uma divisão
fundamental entre sujeito e objeto. Nesta divisão, ao sujeito é
atribuído vida e subjetividade enquanto o objeto é relegado ao mundo
das coisas inanimadas. Nas últimas décadas, no entanto, autores como
Arjun Appadurai, Alfred Gell e Bruno Latour, entre outros, começaram a
questionar tais premissas, chamando atenção para a “vida das coisas”,
assim como para o poder dos objetos de agir e interagir ativamente como
sujeitos na trama social. Objetos são produzidos e em seguida postos em
circulação, habitando inúmeras moradas ao longo do que poderíamos
considerar sua história singular, ou sua biografia. Nesse percurso
esses objetos tornam-se autênticos agentes sociais, transformando a
realidade em função de de sua interação com outros objetos e pessoas.
Pensemos em um exemplo como o Manto Tupinambá, que hoje pertence ao
Museu Quais Branly em Paris. Esse manto foi produzido no século XVI em
alguma parte do litoral do Brasil, onde, durante um certo tempo,
cumpriu uma função ritual específica. Em seguida sua vida
transformou-se radicalmente após o encontro com sujeitos
europeus. Em seguida, ele atravessou o Atlântico para integrar diversas
coleções europeias antes de encontrar sua atual morada. Sua agência ao
longo desse percurso transformou-se radicalmente, assim como sua
aparência e forma de interação no corpo social em que viveu e vive.
Todo objeto possui uma vida e uma “biografia”, ele constrói sua
identidade nesse percurso e embrenha-se, com o tempo, cada vez mais na
malha de relações sociais a ponto de tornarem-se muitas vezes
inseparáveis de outros objetos e pessoas. Em sua peça “você gostaria de
participar de uma experiência artística?”, criada em 1994, Ricardo
Basbaum produziu uma reflexão bastante precoce sobre a “biografia” das
coisas, e mais especificamente, de objetos de arte, ao construiu um
objeto que ativamente resiste ao desejo de institucionalizar-se. O
artista construiu assim uma identidade precisa para sua obra cujo
núcleo seria a construção de uma biografia alternativa.
A presente sessão gostaria de examinar a vida dos objetos sob este
ponto de vista, procurando construir um método mais critico para
abordar a cultura material do passado e do presente.
Alguns eixos temáticos relacionados ao tema seriam, entre outros:
- A vida de
objetos através de coleções.
- A identidade
construída da obra e sua agência.
- Interação da
obra com seu criador e com o público
O caráter
performático da obra e seu lugar na rede de relações sociais. |