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XXXVI Colóquio do Comitê Brasileiro de História da Arte
     
    Sessão Temática 3
     
    A Biografia das coisas: arte, colecionismo e circulação da cultura material
Coordenadores:
Claudia Mattos Avolese (UNICAMP)
Iara Schiavinatto Lis (UNICAMP)
Jens Baumgarten (UNIFESP)
     
   

Tradicionalmente as ciências humanas aproximam-se da realidade estabelecendo uma divisão fundamental entre sujeito e objeto. Nesta divisão, ao sujeito é atribuído vida e subjetividade enquanto o objeto é relegado ao mundo das coisas inanimadas. Nas últimas décadas, no entanto, autores como Arjun Appadurai, Alfred Gell e Bruno Latour, entre outros, começaram a questionar tais premissas, chamando atenção para a “vida das coisas”, assim como para o poder dos objetos de agir e interagir ativamente como sujeitos na trama social. Objetos são produzidos e em seguida postos em circulação, habitando inúmeras moradas ao longo do que poderíamos considerar sua história singular, ou sua biografia. Nesse percurso esses objetos tornam-se autênticos agentes sociais, transformando a realidade em função de de sua interação com outros objetos e pessoas. Pensemos em um exemplo como o Manto Tupinambá, que hoje pertence ao Museu Quais Branly em Paris. Esse manto foi produzido no século XVI em alguma parte do litoral do Brasil, onde, durante um certo tempo, cumpriu uma função ritual específica. Em seguida sua vida transformou-se radicalmente após o encontro com sujeitos  europeus. Em seguida, ele atravessou o Atlântico para integrar diversas coleções europeias antes de encontrar sua atual morada. Sua agência ao longo desse percurso transformou-se radicalmente, assim como sua aparência e forma de interação no corpo social em que viveu e vive. Todo objeto possui uma vida e uma “biografia”, ele constrói sua identidade nesse percurso e embrenha-se, com o tempo, cada vez mais na malha de relações sociais a ponto de tornarem-se muitas vezes inseparáveis de outros objetos e pessoas. Em sua peça “você gostaria de participar de uma experiência artística?”, criada em 1994, Ricardo Basbaum produziu uma reflexão bastante precoce sobre a “biografia” das coisas, e mais especificamente, de objetos de arte, ao construiu um objeto que ativamente resiste ao desejo de institucionalizar-se. O artista construiu assim uma identidade precisa para sua obra cujo núcleo seria a construção de uma biografia alternativa.
A presente sessão gostaria de examinar a vida dos objetos sob este ponto de vista, procurando construir um método mais critico para abordar a cultura material do passado e do presente.
Alguns eixos temáticos relacionados ao tema seriam, entre outros:

  1. A vida de objetos através de coleções.
  2. A identidade construída da obra e sua agência.
  3. Interação da obra com seu criador e com o público
O caráter performático da obra e seu lugar na rede de relações sociais.
     
     
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