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O simpósio
propõe o debate de leituras históricas e críticas de obras de arte
contemporâneas relacionadas a políticas da memória como elemento que
propicia a escrita da história mais ampla, assim como da própria
história da arte. O foco principal pretendido se concentra em produções
artísticas relacionadas às questões da violência e do corpo, sobretudo
no Brasil, que vivenciou um longo período de escravidão e, tal como
outros países da América Latina, sofreu a violência e o terror das
ditaduras civis e militares.
Qual história da arte seria necessária para dar conta da memória que a
violência escravista e política deixa e como os artistas contemporâneos
articulam simbolicamente essas marcas, presentes no corpo subjetivo e
também no corpo social? O que se propõe é a configuração de
debates que pensem a relação entre o corpo submetido à violência, a
produção de arte e os registros de memória, questões que implicam, como
escreveram Stuart Hall e Andreas Huyssen, reflexões sobre as marcas do
terror colonialista e a sua permanência no mundo sob a
perspectiva do debate pós-colonialista.
Tratando dos movimentos transnacionais nos discursos de memória e
violência, Huyssen identifica uma relação muito íntima entre os grandes
traumas da história ocidental, como o Holocausto dos judeus e a
violência colonialista. As marcas nos corpos e mentes da violência
colonial estão exemplarmente simbolizadas nos trabalhos do artista
sul-africano Willian Kentridge ao tratar da dominação colonial dos
brancos, da violência racista e do exílio judaico, mas também nas
proposições de Doris Salcedo, ao enfrentar a violência cotidiana da
Colômbia. Diretamente relacionadas ao corpo violentado da mulher
indígena guatemalteca, vítima do terror colonial, se situam as performances
da artista Regina José Galindo, do mesmo modo como são violentados os
corpos das mulheres negras escravizadas, reativados e denunciados no
trabalho da brasileira Rosana Paulino.
Entretanto, para
refletir sobre a produção de objetos artísticos nesta ordem,
irremediavelmente permeados pela cultura da memória e da violência
colonial e pós-colonial, é importante atentar para um possível bloqueio
da imaginação, que impeça o vislumbramento de futuros alternativos. É
para superar essa paralisia que Walter Mignolo aponta para os conceitos
de (des)colonização, pensamento fronteiriço e desobediência
epistemológica, assim como os teóricos queer
vislumbram a necessidade de gerar contradiscursos sobre o
real, e sobretudo a respeito do corpo, como estratégia para
desestabilizar a crença nos discursos oficiais.
Os critérios de
seleção para este simpósio são: pertinência do trabalho em relação ao
tema proposto, relevância das obras e/ou dos artistas escolhidos no que
concerne ao desenvolvimento da área de história da arte, qualidade do
texto, respeito às normas técnicas estabelecidas e aos prazos
determinados.
Eixos temáticos relacionados ao tema:
1- Arte, memória
e violência colonial.
2- Memória, terror e pós-colonialismo.
3- Violência, colonialismo e pós-colonialismo na América
Latina.
4- Descolonização e desobediência epistemológica.
5- O corpo submetido à violência, a produção de arte e os registros da
memória.
6- A teoria queer e os
contradiscursos a respeito do corpo.
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